Sepultar ou cremar ( parte 2)





Olá, meu irmã e minha irmã. No último “Servindo à Verdade”, comecei a responder à questão acima. Vimos que a morte é a separação entre alma e corpo. Corpo que, mesmo após a morte, merece e deve ser tratado com toda dignidade. Afinal também nós seremos corporalmente ressuscitados (cf. 1 Cor 15,20-22). E já agora, em razão do batismo, participamos da vida do Senhor ressuscitado (cf. Ef 2,6).

Tudo isso significa que para nós cristãos, a morte tem um caráter positivo.

Seguirei aqui a instrução “Ad ressurgendum cum Christo”, a propósito da sepultura dos defuntos e da conservação das cinzas da cremação.

Assim está posto na instrução: “Com a morte, o espírito separa-se do corpo, mas, na ressurreição, Deus torna a dar a vida incorruptível ao nosso corpo, transformando-o, reunindo-o, de novo, ao nosso espírito”.

A fé na ressurreição é fundamental. Sem essa fé não somos cristãos.

A respeito disso, um breve esclarecimento: por isso os espíritas, ainda que se digam cristãos, não o são, pois eles acreditam na reencarnação. Nós, cristãos, professamos a fé na ressurreição.

Voltando ao assunto: a Igreja de Cristo, que professa a ressurreição, recomenda que os corpos sejam sepultados.

A instrução diz: “Seguindo a antiga tradição cristã, a Igreja recomenda insistentemente que os corpos dois defuntos sejam sepultados no cemitério ou num lugar sagrado”.

Para a Igreja, sepultar o corpo de um defunto é mais significativo, pois melhor expressa a esperança na ressurreição. E manifesta apreço pela dignidade humana da perspectiva corporal. Veja o ensinamento católico: “Enterrando os corpos dos fiéis defuntos, a Igreja confirma a fé na ressurreição da carne. E deseja colocar em relevo a grande dignidade do corpo humano como parte integrante da pessoa, com a qual o corpo condivide a história. Não pode por isso permitir comportamento e ritos que envolvam concepções errôneas sobre a morte: seja o aniquilamento definitivo da pessoa, seja o momento da fusão com a  mãe natureza  ou com o universo, seja no processo da reencarnação, seja ainda, como a libertação definitiva da prisão do corpo”.

Superstições, simpatias, crenças que defendem a ideia segundo a qual a pessoa se dilui na natureza perdendo a identidade, ritos que pretendem direcionar uma suposta reencarnação, tudo isso é rejeitado pela Igreja, pois visam negar a ressurreição. E o sepultamento é um modo de confirmar a fé na ressurreição. Cada batizado torna-se templo do Espírito Santo e o sepultamento em lugares adequados é um modo de resguardar essa dignidade: “Sepultar nos cemitérios ou em outros lugares sagrados responde adequadamente à piedade e ao respeito devido aos corpos dos fiéis defuntos que, mediante o batismo, tornaram-se templo do Espírito Santo e dos quais, como instrumentos e vasos, serviram-se santamente para realizar boas obras”.

Outro motivo pelo qual a Igreja recomenda o sepultamento está no fato de podermos ter um local adequado e legítimo para o cultivo da piedade para com os falecidos: “A sepultura dos corpos dos fiéis defuntos nos cemitérios ou noutros lugares sagrados favorece a memória e oração pelos defuntos da parte de seus familiares, de toda a comunidade cristã, assim como a veneração dos mártires e santos”.

Então, isso tudo significa que a Igreja proíbe a cremação dos corpos? A resposta é que, embora a Igreja demonstre uma preferência pelo sepultamento, a cremação é permitida, desde que não tenha o objetivo de afrontar a fé católica: “a Igreja continua a preferir a sepultura dos corpos, um vez que assim se evidencia uma estima maior pelos defuntos. Todavia, a cremação não é proibida a não ser que tenha sido preferida por razões contrárias à doutrina cristã”.

Uma vez realizada a cremação, as cinzas devem ser adequadamente conservadas em local sagrado. Portanto, não é permitido que se guardem cinzas em casa e nem “a dispersão de cinzas no ar, na terra ou na água ou, ainda, em qualquer outro lugar. Exclui-se a conservação das cinzas cremadas sob forma de recordação comemorativa em peças de joalheria ou em outros objetos, tendo presente que para tal modo de proceder não podem ser adotadas razões de ordem higiênica, social ou economia a motivar a escolha da cremação”.

Mas e se a pessoa desejar ser cremada como um modo de afrontar ou negar os princípios da doutrina e da fé? O documento recomenda que se sejam negadas as exéquias. Talvez alguém suponha injustiça por parte da Igreja. Mas não é. Ora, se o sujeito nega a fé e opta por afrontar a fé, certamente não há sentido em impor aos seus restos mortais algo que ele rejeitou. A Igreja respeita a liberdade daqueles que aceitam a fé em vida e em morte.

Sigamos em frente, pensado com a Igreja no serviço da verdade.

Fique com Nossa Senhora e São José.

O professor Ricardino Lassadier é graduado em filosofia pela Universidade Federal do Pará (UFPA), com especialização em filosofia também pela UFPA e especialização em teologia pelo Centro Universitário do Pará (CESUPA). É membro do corpo docente da Faculdade Católica de Belém.

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