Por: Taynara Sousa
A
música estava intimamente ligada com a nossa fé desde as primeiras comunidades
cristãs. Na carta de São Paulo aos Efésios, o Apóstolo de Cristo exorta a
comunidade: “falai uns aos outros com salmos, hinos e cânticos espirituais,
cantando e louvando ao Senhor em vosso coração, sempre e em tudo dando graças a
Deus, o Pai, em nome de nosso Senhor Jesus Cristo” (Ef. 5, 19-20). É
interessante o fato de o Apóstolo colocar o coração como o lugar de dar graças
a Deus, cantando e louvando. Longe de qualquer euforia exterior, na Santa
Missa, o nosso coração deve ser um verdadeiro templo de ação de graças.
Queridos
irmãos músicos, quando exercemos o serviço dentro da liturgia, precisamos ter
esclarecido no nosso coração a sua finalidade. O Papa João Paulo II, ao
escrever um Quirógrafo em comemoração ao centenário do Motu Proprio Tra Le
Sollecitudini, lembra que “São Pio X apresenta a música como um meio de
elevação do espírito a Deus, e como ajuda para os fiéis na participação ativa
nos sacrossantos mistérios e na oração pública e solene da Igreja”. Papa João
Paulo II quer nos lembrar, pelas palavras de São Pio X, que a música causa um
impacto tão grande na alma que ela pode ser meio de elevação do espírito, ou seja,
a música pode ajudar a quebrar o “gelo do nosso coração”, e ainda mais: a
música é capaz de atingir até mesmo as almas tíbias. Além disto, a música na
liturgia precisa proporcionar “a participação ativa dos fiéis”, essa
participação não pode ser resumida ao simples fato da assembleia saber o canto,
isto seria diminuir o que realmente a Igreja nos propõe. Devemos entender que
no fato de o fiel ouvir e interiorizar a PALAVRA que está sendo CANTADA e
alcançar uma verdadeira contrição e assim render graças a Deus em seu coração,
a música na liturgia atinge o seu objetivo. É importante este esclarecimento,
pois podemos cair no engano de achar que o fiel só está participando ativamente
se este souber acompanhar todo o canto. Na Santa Missa, a escuta é uma forma de
participação.
A
liturgia tem como objetivo a “Glória de Deus e a santificação e a edificação
dos fiéis”. Tendo em mente e guardando no nosso coração esta verdade, é
necessário muito discernimento para a escolha dos cânticos e nunca perder de
vista o objetivo da sagrada liturgia. Mas, como podemos dar glórias a Deus e
ajudar na edificação dos fiéis? É importante, caros irmãos, entendermos que na
Santa Missa celebramos o sacrifício de Nosso Senhor Jesus Cristo, logo, o
primeiro passo é escolher um repertório que não obscureça o caráter sacrificial
que celebramos, é de suma importância manter a serenidade. Outro problema comum
que ocorre em nossas igrejas é o barulho excessivo. Devemos ter cuidado!
Vivemos em um mundo extremamente barulhento e precisamos seguir o exemplo de
Nosso Senhor que se retira para lugares silenciosos para ter maior intimidade
com o Pai. Queridos irmãos músicos, nós não podemos tirar o direito dos fiéis
de escutar a Deus no silêncio, devemos ter cuidado com o volume dos microfones
e instrumentos, além de evitar ficar “passando o som” poucos minutos antes da
Missa, pois precisamos respeitar os fiéis que tem o valioso habito de rezar
antes da Celebração Eucarística.
Outra
atitude importante para o bom serviço é a pontualidade dos músicos. Marque com
o seu ministério tempo o suficiente para passar o som, organizar os lugares,
afinar o instrumento, rezar, e ainda sobrar bons minutos para se guardar o
silencio para melhor concentração do grupo. Caro irmão, você também tem uma
alma! Não deixe de viver a Santa Missa por conta do serviço. É claro que quem
canta sofre certas aflições até mesmo por imprevistos que acontecem, porém, com
organização antecipada, podemos diminuir esses imprevistos e melhorar a
qualidade de nossa oração.
Acrescentar
mais eficácia ao texto é outra característica da música litúrgica relembrada no
quirógrafo do Papa João Paulo II. Isto significa que para a Santa Missa, a
música não pode destacar a si mesma, então devemos ter cuidado com harmonias e
ritmos exagerados. É bom que a estrutura das músicas cantadas nas Celebrações
Eucarísticas respeite uma hierarquia na seguinte ordem: melodia, harmonia e
ritmo, pois quando a harmonia ou o ritmo ultrapassam a melodia, o texto que
está sendo cantado corre o risco de ser ofuscado. Algumas músicas até mesmo
tecnicamente difíceis, nem sempre se encaixam no contexto do rito, podendo
atrapalhar a compreensão da Palavra. Outra coisa com que devemos ter cuidado -
e todos nós músicos estamos expostos a este sentimento - é o estrelismo. Vou
explicar melhor... Todos nós podemos cair na tentação de escolher certos
repertórios não para cantar a PALAVRA, mais apenas para cantar uma música que a
“minha voz seja exaltada”. Irmãos, nós músicos estamos expostos a pecados como
a vanglória e o orgulho, para combatermos, devemos sempre ter em nosso coração
a vontade do serviço, dedicando as nossas forças para a finalidade da liturgia,
por isto, não descuide da vida de oração! Devemos sempre pedir a Deus a graça
da humildade.
No
texto passado, falei que o Canto Gregoriano é o canto oficial da Igreja. Talvez
você nem saiba o que é o canto gregoriano. Convido você a tirar um tempo para
escutar este estilo. Indico a Missa Orbis Facto. Perceba como o texto é
valorizado e como a melodia está totalmente submissa ao texto. No Motu próprio
Tra Le Sollecitudini de Pio X, prescreve-se que “uma composição religiosa será
tanto mais sacra e litúrgica quanto mais se aproxima no andamento, inspiração e
sabor da melodia gregoriana”.
Algumas
pessoas podem questionar se a Constituição Sacrosanctum Concilium não
modificaria isto e a resposta é NÃO. Na Sacrosanctum Concilium o Canto
Gregoriano continua como o canto oficial da Igreja, e isto se confirma no
Quirógrafo escrito pelo Papa João Paulo II (pós-concilio). Outra dúvida que
possa surgir é: “só pode ser cantado o canto gregoriano na Missa?” e a resposta
também é NÃO. O que a Igreja nos orienta é que o canto se aproxime do estilo
gregoriano. Para lhe ajudar a escolher o seu repertório, gostaria de destacar
três características do canto gregoriano: a primeira é a primazia da PALAVRA, a
segunda e a terceira são a leveza e a serenidade das melodias.
Caros
irmãos, espero ter-vos ajudado a entender mais sobre a finalidade da música na
liturgia. Agradeço a Deus por cada pessoa que se dedica a este serviço e peço a
graça para que nós, músicos, possamos ajudar a música litúrgica alcançar a sua
finalidade. Deus nos abençoe!
A autora do texto é natural de Ponta
de Pedras (PA). Atualmente cursa o 5° semestre da licenciatura em música pela
Universidade do Estado do Pará (UEPA). O artigo foi escrito para o blog Rainha
dos Céus.
Comentários
Postar um comentário