Dízimo e espiritualidade


Por: Pe. Edileno Felix

“Quanto mais nos damos a Deus, mais Ele se dá a nós” (Santa Elisabete da Trindade).

Neste mês de Agosto, temos a oportunidade de refletir sobre o dizimo e a espiritualidade, e buscando o sentido da vida espiritual encontramos no catecismo da Igreja Católica nº §2014: O progresso espiritual tende à união sempre mais íntima com Cristo. Esta união recebe o nome de "mística", pois ela participa no mistério de Cristo pelos sacramentos "os santos mistérios" e, nele, no mistério da Santíssima Trindade, Deus nos chama a todos a esta íntima união com Ele, mesmos que graças especiais ou sinais extraordinários desta vida mística sejam concedidos apenas a alguns, em vista de manifestar o dom gratuito feito a todos.


É através do processo espiritual que todos nós somos chamados a fazer que vamos encontrando o sentido da nossa missão e compreendendo porque servimos à Igreja e que sentido ela tem para nós, mas tudo isso é um processo formativo e longo, também através desse processo vamos compreendendo o significado daquilo que fazemos.  Neste caso, o nosso tema é dizimo e espiritualidade. Só podemos compreender o sentido do dízimo na vida espiritual e porque o consagramos, quando estamos imersos em Deus. Nossa vida espiritual irá refletir muito no nosso trabalho pastoral, mas também na nossa responsabilidade para com a Igreja.

 “Quanto mais nos damos a Deus, mais Ele se dá a nós.” Esta frase de Santa Elisabete da Trindade, nos fala no sentido da doação espiritual da vida de entrega, mas também podemos aplicar no sentido da consagração do dizimo, essa doação só acontece quando somos movidos pela graça, a partir dela iremos ser dóceis à ação do Espirito Santo, aceitaremos com facilidade todos os ensinamentos e doutrinas da Igreja, seremos obedientes ao nosso bispo e ao clero, assim como iremos amar a nossa Igreja. Mas tudo isso só é possível quando trazemos em nós uma espiritualidade pautada na palavra de Deus, crescendo em seu amor, o que automaticamente refletirá em nosso relacionamento com os irmãos.

Quando a questão é a parte financeira (dizimo, ofertas ou alguma campanha de arrecadação para ajudar nas obras sociais da Igreja), iremos perceber como anda verdadeiramente o nosso coração em relação à nossa espiritualidade. Quem vive no amor, ama a Deus e sua Igreja, na hora de consagrar seu dizimo irá fazer com todo amor. Não fará questionamentos, pois sabe que está entregando para a Igreja e ela irá utilizar de acordo com as suas necessidades.

O crescimento da vida espiritual deve trazer para nós um progresso, uma diferença que nós devemos fazer. Mas porque muitos não são fieis na consagração do seu dizimo? Porque ainda falta amor no coração, amor à Igreja, para que a evangelização aconteça nas nossas paróquias. Em algumas situações as preocupações com o valor a ser consagrado, a devolução do dizimo como se fosse algo forçado, ou até mesmo para aparecer diante dos outros, isso é falta de espiritualidade e conscientização.

O dizimo nasce da experiência do amor a Deus. Quem é fiel no dizimo coloca Deus sobre todas as coisas e tem a consciência de que para que Deus seja conhecido e amado é necessário a colaboração na sua igreja com a consagração do dizimo. Ter o coração cheio de amor como o de Santa Terezinha do Menino Jesus: “Oh, meu Jesus! Eu te amo, amo a minha Igreja, minha Mãe! Sei que: o menor movimento de puro amor lhe é mais proveitoso do que todas as outras obras reunidas” (Santa Teresa. Obras Completas, nº 175).

Quando amamos a Deus, amamos à Igreja, nossa mãe e queremos que ela cresça com seu trabalho de evangelização para que possa gerar novos filhos pela fé, mas tudo isso só é possível graças a fidelidade do dizimista que tem o dízimo como fruto de uma espiritualidade sincera e verdadeira.

Devo me perguntar se o dizimo é fruto de uma crescente espiritualidade em minha vida ou simplesmente porque alguém da pastoral do dízimo me convidou, se eu aceitei o convite, eu dei um sim, mesmo não tendo definido em minha vida o profundo sentido do dizimo, mas a partir do primeiro contato eu faço algo diferente, busco conhecer pela Bíblia e pelos ensinamentos da igreja, e a cada dia vou melhorando a minha condição de ser um dizimista que sabe e entende o sentido espiritual do dizimo que começa pelo meu coração.

“Um grande amor consegue transformar coisas pequenas em coisas grandes e só ele dá valor às nossas ações. Quanto mais puro se torna o nosso amor, tanto menos o fogo do sofrimento que nos purificará” (Diário de Santa Faustina 303).

No amor pela Igreja, a consciência que tenho me leva a partilhar o pouco, mas é uma partilha com responsabilidade, mesmo sabendo que no mês tenho muitas despesas para pagar, mas em primeiro lugar, pela minha consciência, eu cumpro o meu compromisso para com Deus. Quando recebo o salário eu não tiro logo para pagar as prestações do cartão de credito, nem a despesas do açougue e nem da padaria, mas em primeiro lugar o meu dízimo, cumprindo assim com o mandamento: “Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma, de todo o teu entendimento! Esse é o maior e o primeiro mandamento. O segundo é semelhante a esse: ‘Amarás ao teu próximo como a ti mesmo” (Mt 22,34-40).

O Dizimo é fruto de uma espiritualidade baseada na responsabilidade para com a Igreja. A Igreja é nossa mãe e precisamos ajudá-la nas suas necessidades. “Ó Igreja de Deus, tu és a melhor mãe, só tu sabes educar e fazer a alma crescer! Oh! Que grande amor e veneração tenho para com a Igreja, essa melhor mãe” ( Diário de Santa Faustina, 97).

Na partilha do dizimo o meu coração vai se educando para ser solidário com a Igreja e também com meus irmãos necessitados, na crescente experiência de Deus vai se dissipando todo egoísmo que pode existir em minha vida. Aquilo que considero como meu também é dos outros “Não chamem nada de ‘seu’, mas partilhem todas as coisas” (Santo Agostinho). Na escola da espiritualidade do dizimo, o cristão cresce nos seguintes pontos:

·                 Consciência de filho responsável;
·                 Responsabilidade com a evangelização;
·                 Aprende o sentido da unidade;
·                 E volta-se para o próximo e suas necessidades.

Como somos diferentes quando temos a possibilidade de ofertar a Deus aquilo que temos, mas tudo começa pela oração, sem a oração nos esvaziamos e nos tornamos mesquinhos sem graças e sem amor. Quando temos dificuldades em colaborar sempre com as ofertas ou com o dizimo é porque Deus está ausente do meu coração. Toda partilha começa pelo amor, pela entrega de si a Deus, assim como ele se entregou por nós.

Se você ler a Palavra de Deus, a sua concepção de dizimo será diferente. Para os que amam a Deus, o dizimo não é uma obrigação e sim uma questão de fé e responsabilidade, uma entrega sincera e verdadeira. O homem que ora tem sempre o que dar e dá com amor e gratidão. O homem que ora se apoia em Deus. Quando estamos com Jesus sempre ofertamos, partilhamos, sem preocupação.

Portanto, a minha espiritualidade me leva a compreender e amar, e também pensar que algum dia alguém consagrou seu dizimo que trouxe muitos benefícios para a minha vida espiritual e para a minha comunidade. E o desejo é que outros também possam beber desta fonte perene de graça que a igreja oferece a todos nós.
Unidos no Coração Misericordioso de Jesus.


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS


Bíblia de Jerusalém. São Paulo, Edições Paulinas, 1985.

Catecismo da Igreja Catolica . Ipiranga-SP, Edições Loyola, 2000.

Santa Irmã Maria Faustina Kowaslka. Diário: a Misericordia Divina na minha alma. Curitiba, Editora Apostolado da Divina Misericórdia, 2015.

Elisabete da Trindade. obras completas. Petropolis Rj, editora Vozes, 1993.

Santa Teresa. Obras completas. São Paulo, Paulus 2002.

Santo Agostinho. Confissões. São Paulo, Paulus, 1984.



* O autor do texto é sacerdote da Diocese de Ponta de Pedras, tendo sido ordenado em 8 de dezembro de 2010, pelas mãos de Dom Alessio Saccardo, SJ. Atualmente é o cura da Catedral Diocesana Nossa Senhora da Conceição, em Ponta de Pedras.

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