Entre os dias 20 e 23 de agosto, aconteceu em Manaus,
capital do Estado do Amazonas, o III Encontro da Igreja Católica na Amazônia
Legal, com a presença dos bispos das igrejas particulares da região e de outros
delegados escolhidos para participarem. O objetivo foi partilhar experiências,
criar metas em conjunto a partir da Amazônia brasileira e aprofundar questões
relacionadas ao Sínodo de 2019 cujo foco está no olhar para a região.
Além dos bispos da Amazônia, participou do encontro do
cardeal Dom Cláudio Hummes, arcebispo
emérito de São Paulo, presidente da Repam (Rede Eclesial Pan-Amazônica) e da
Comissão Especial para a Amazônia, entidades que organizaram o encontro.
Um dos focos principais do encontro foi o Sínodo para a
Amazônia, convocado pelo Papa Francisco para 2019. As temáticas envolvendo o
sínodo foram apresentadas ao participantes do encontro por alguns membros do
conselho pré-sinodal cardeal Cláudio Hummes, dom Neri Tondello, dom Roque
Paloschi, dom Erwin Krautler e irmã Maria Irene Lopes.
O nosso bispo diocesano Dom Teodoro Mendes Tavares
participou do encontro representando a nossa diocese.
Ao final das discussões foi publicada uma carta com as conclusões do encontro. Confira na íntegra.
Ao final das discussões foi publicada uma carta com as conclusões do encontro. Confira na íntegra.
III ENCONTRO DA
IGREJA CATÓLICA NA AMAZÔNIA LEGAL
Manaus, 21 a 23 de agosto de 2018
Manaus, 21 a 23 de agosto de 2018
AMAZÔNIA: NOVOS
CAMINHOS PARA A IGREJA E PARA UMA ECOLOGIA INTEGRAL
“A glória de Deus
é o ser humano vivo e a vida do ser humano é a visão de Deus;
se já a manifestação de Deus pela criação dá vida a todos os seres que vivem sobre a terra quanto mais a revelação do Pai pelo Verbo dá a vida aos que veem Deus!”
(Santo Irineu de Lião, Contra as heresias, IV, 20,7)
se já a manifestação de Deus pela criação dá vida a todos os seres que vivem sobre a terra quanto mais a revelação do Pai pelo Verbo dá a vida aos que veem Deus!”
(Santo Irineu de Lião, Contra as heresias, IV, 20,7)
A Igreja Católica presente na
Amazônia, em nove países, está em processo de preparação do Sínodo Especial
para a Amazônia, a ser realizado em outubro de 2019. Nestes dias, de 21 a 23 de
agosto, realizou-se, em Manaus, o III Encontro desse processo de reflexão.
Desta vez, estiveram reunidos bispos, religiosos e leigos de toda a Amazônia
Legal.
O papa Francisco nos pede que
sejamos uma Igreja próxima, solidária, defensora da dignidade humana,
profética, capaz de discernir o que nos pede o Espírito Santo, de denunciar as
injustiças e alimentar a Esperança para os povos da Amazônia!
A finalidade do Sínodo é
encontrar novos caminhos para a evangelização do povo de Deus, sobretudo,
dos povos indígenas que sofrem grandes ameaças. O desejo do papa Francisco é
uma Igreja impulsionada pela missionariedade, aberta, em saída, em estado
permanente de missão. O tema da ecologia está inserido no contexto da
Igreja aberta e misericordiosa. A misericórdia nos leva à experiência do
cuidado. A evangelização tem uma dimensão ecológica.
Ao longo desses dias, rezando,
estudando, ouvindo especialistas com suas análises, o que ampliou nossa visão
do conhecimento de toda complexa realidade amazônica, expusemos
também nossas preocupações com todas essas situações e experiências
dolorosas da vida de nossos povos, como o que está acontecendo com os
migrantes venezuelanos em Roraima, no município de Pacaraima, e o que
estamos realizando em nossas Igrejas particulares por meio de nossas ações
evangelizadoras e pastorais.
Constatamos com alegria e
esperança que a Igreja Católica na Amazônia está solidária com seus povos
e dando passos decisivos para a concretização do Sínodo, por meio do
levantamento e mapeamento de nossas realidades eclesiais e ambientais, da
realização das Assembleias Territoriais, das Rodas de Conversas, das
Assembleias Diocesanas e Regionais.
Percebemos, porém, que ainda
há muito para fazer. Os desafios são imensos. Todos os dias nos chegam notícias
desalentadoras que afetam a vida e a existência de nossos povos, como a
continuação dos grandes projetos: a construção das hidrelétricas, o avanço
do agronegócio, a exploração das mineradoras e o incontrolável
desmatamento. Enfim, ameaças constantes à grande floresta, às nossas águas e à
sobrevivência dos habitantes da região, sobretudo os povos tradicionais e
aqueles que sobrevivem da pesca, do extrativismo, da agricultura familiar,
como por extensão, os habitantes das cidades que, nestes últimos anos,
cresceram consideravelmente na região, com todas as sequelas de degradação
da condição humana, espelhada de modo especial na violência que cresce cada
dia, na proliferação do narcotráfico e do tráfico de pessoas, ceifando a
vida de uma quantidade enorme de pessoas, especialmente dos jovens.
Não obstante esses desafios,
sonhamos com uma Igreja de rosto amazônico. Esta Igreja já existe nas
comunidades que se formaram e se fortaleceram a partir do encontro dos Bispos
da Amazônia, em 1972, na cidade de Santarém. As organizações indígenas com
as quais a Igreja católica colaborou e colabora, o compromisso com a luta
pela terra, por saúde e educação diferenciadas marcam a
pastoral indigenista. O envolvimento em projetos de desenvolvimento
sustentável, a partir da fé, e a luta por melhores condições de vida nas
grandes periferias urbanas marcam a nossa Igreja.
No nosso coração de pastores,
estará o atendimento e o acompanhamento pastoral das comunidades que têm
direito de serem alimentadas pelo pão da Eucaristia, da Palavra e
pelos sacramentos. Crescemos muito nos ministérios leigos, nos quais
destacamos a participação efetiva das mulheres, formamos catequistas,
dirigentes de celebração, animadores de comunidades, ministros e ministras
da Palavra, das exéquias e da sagrada comunhão; formamos e ordenamos um bom
número de padres diocesanos e diáconos permanentes; nos últimos tempos, já
temos um clero local que, se não é numeroso, tem identidade própria. Mas
as necessidades ainda são grandes e as nossas características regionais exigem
soluções diferenciadas.
Seguimos os rumos traçados
pelo processo sinodal na firme esperança de que o Espírito que conduz a
Igreja nos animará e sustentará em nossa caminhada nesta Amazônia, pois
sentimos a necessidade de estabelecer uma unidade em torno dos mais diversos
desafios que a Amazônia apresenta, fortalecerá o imenso esforço, às vezes
desconexo da evangelização, dos movimentos e das práticas pastorais para
tornar eficaz essa rede de solidariedade e comunhão.
Não podemos perder de vista
que a Igreja na Amazônia está inserida num contexto eclesiológico
mais amplo que é a Igreja no continente americano e caribenho. Por isso,
ao concluir esta carta, não poderíamos deixar de destacar que a vivência
eclesial em nossa região encontra-se em plena consonância com todo o
debate em torno do tema do Sínodo e em profunda comunhão com o magistério
do Papa Francisco.
Que Maria de Nazaré, expressão
da face materna de Deus no meio de nosso povo, por sua intercessão, acompanhe os
passos da Igreja de seu Filho nas águas e terras amazônicas para que
ela seja sinal e presença do Reino de Deus e que ajude, com sua tarefa
evangelizadora, a humanizar e a dignificar cada vez mais a realidade da
vida em nossa região.
Manaus, 23 de agosto de 2018
Dia de Santa Rosa de Lima, Padroeira da América Latina
Dia de Santa Rosa de Lima, Padroeira da América Latina
Bispos católicos da
Amazônia Legal e demais representantes participantes no III Encontro
Cardeal Dom
Cláudio Hummes,
Presidente da Comissão Episcopal para Amazônia da CNBB,
Presidente da REPAM – Rede Eclesial Pan-Amazônica
Presidente da Comissão Episcopal para Amazônia da CNBB,
Presidente da REPAM – Rede Eclesial Pan-Amazônica
Comentários
Postar um comentário