Os bispos das duas circunscrições eclesiásticas presentes do
Marajó – Dom Evaristo Pascoal Spengler, da Prelazia do Marajó e Dom Teodoro
Mendes Tavares, da Diocese de Ponta de Pedras- enviaram nesta segunda-feira
(27) uma carta endereçada ao governador do Estado, Helder Barbalho, solicitando
medidas de combate ao Covid-19 nos municípios do arquipélago.
Apresentando a complicada situação social e geográfica dos
municípios marajoaras, os prelados solicitam ao governador a viabilização e
instalação de UTI’s nos hospitais municipais, visando evitar que os pacientes
que por ventura precisarem se dirijam a Belém e sobrecarreguem a estrutura da
capital.
A medida planejada pelo Governo do Estado era instalar UTI’s
no hospital regional de Breves, para atender os municípios da região ocidental
do Marajó, enquanto que os municípios da região oriental seriam atendidos pelo
sistema de saúde de Belém. Tal medida, segundo os bispos, poderia colocar
muitas vidas em risco, motivo pelo qual solicitaram a instalação de um hospital
de campanha na região oriental/sul do Marajó, que atenderia os municípios de
Soure, Salvaterra, Cachoeira do Arari, Santa Cruz do Arari, Ponta de Pedras,
Muaná e São Sebastião da Boa Vista.
No texto também é solicitado a viabilização de estruturas
para que os cidadãos marajoaras recebam seus benefícios sociais nos seus
próprios municípios, sem precisar se deslocar para Belém, o que aconteceria em
embarcações lotadas, aumentando o risco de disseminação do vírus. Nesse mesmo
intuito, os bispos pediram medidas de fiscalização para redução do tráfego de
embarcações que levam passageiros na rota Marajó-Belém.
Dom Evaristo e Dom Teodoro também pediram ao governador que
faça contato com a ministra Damaris Alves, titular do Ministério da Mulher, da
Família e dos Direitos Humanos, em vista de conseguir mais recursos para o enfrentamento da situação. Em
março deste ano foi lançado pelo Governo Federal o programa “Abrace o
Marajó”, que tem como objetivo melhorar o IDH da região a partir da ampliação
do alcance e do acesso da população marajoara aos direitos humanos; para os bispos, este é o momento crucial em que o Marajó mais necessita de um abraço afetuoso dos poderes públicos.
Veja a íntegra da carta assinada pelos bispos:
Veja a íntegra da carta assinada pelos bispos:
Marajó, 27 de abril de 2020
Ao
Exmo. Sr. Governador do Estado do Pará
Exmo. Sr. Governador do Estado do Pará
Helder
Zahluth Barbalho
ASSUNTO:
Retaguarda de leitos de UTI no Marajó para Combate a CV-19
“Todas as
vezes que fizestes isso a um desses menores que são meus irmãos, foi a mim que
o fizestes” (Mt 25,40).
Nós, abaixo
assinados, D. Evaristo Pascoal Spengler e D. Teodoro Mendes Tavares, Bispos da
Prelazia do Marajó e da Diocese de Ponta de Pedras, respectivamente, vos
saudamos cordial e respeitosamente. Dirigimo-nos a Vossa Excelência, neste
tempo de muitas provações, por causa da crise sanitária, para apresentar-lhe o
clamor do povo marajoara diante da expansão da pandemia do novo Coronavírus,
que já atinge quase dois terços dos seus municípios do Arquipélago do Marajó e
solicitar providências cabíveis.
Estamos acompanhando
com bastante atenção e solicitude o enfrentamento do seu governo diante da
crise sanitária que assola o mundo e o Brasil com a propagação da pandemia do
novo Coronavírus (SARS – CoV – 2), causador da doença COVID-19.
Manifestamos nosso
apoio às medidas e ações que o seu governo tem tomado frente a essa pandemia.
Continuamos colaborando, seguindo as normas e recomendações dadas pelas
autoridades sanitárias e competentes. Divulgamos todas as medidas para a
contenção do avanço do novo Coronavírus. Nossas celebrações, reuniões e
atividades pastorais foram todas suspensas. Estamos rezando constantemente pela
saúde de todos e pelo fim desta pandemia. Mas, com o decorrer do tempo,
percebemos que a situação no Marajó está ficando cada vez mais crítica e poderá
ficar insustentável, pois tem aumentado substancialmente o número de pessoas
infectadas e mortas por causa desta pandemia do novo Coronavírus.
Observamos que o
planejamento anunciado pelo Estado prevê a construção de um hospital de
campanha em Breves, região ocidental do Marajó, para atender os municípios de
Breves, Anajás, Bagre, Curralinho, Gurupá, Melgaço e Portel. Por outro lado, a
região oriental será atendida pelo sistema de saúde de Belém. Tememos que essa
medida colocará muitas vidas em risco, devido ao colapso da saúde na capital
paraense. A imprensa local e nacional têm evidenciado que a estrutura de saúde
de Belém, tanto a municipal quanto a estadual, já está comprometida. Ou seja,
há pouco mais de um mês do primeiro caso de COVID-19, o Pará já alcançava, em
21 de abril, 97% da utilização de leitos de UTI’s - Unidades de Terapia
Intensiva - disponíveis no Estado. Em Belém a situação já era mais grave: 100%
dos leitos já estão ocupados e 80% deles com pacientes suspeitos ou confirmados
com a Doença (cf. Estadão, 21.04.2020). Hoje a situação está mais grave, tanto
que o prefeito de Belém anunciou medidas mais rigorosas para o controle da
pandemia.
Nesse sentido, vimos solicitar a Vossa Excelência que
viabilize a instalação de UTI’s nos Hospitais municipais, para que em caso
de necessidade, se possa atender a população nos próprios municípios, evitando
assim sobrecarregar ainda mais a estrutura da capital. Tendo em vista a
situação emergencial que se apresenta e os limites do Estado em atender a essa
necessidade premente, propomos a instalação de um hospital de campanha com os
devidos equipamentos e equipe de profissionais de saúde que atenda à região
oriental/sul do Marajó (municípios de Soure, Salvaterra, Cachoeira do Arari,
Santa Cruz do Arari, Ponta de Pedras, Muaná e São Sebastião da Boa Vista). A
distribuição dos hospitais, assim como ofertas de leitos de UTI’s, equipamentos
e pessoal, são decisivos para preservar a vida dos doentes. E nesse ponto, a
desigualdade pode ser fatal no Marajó.
É fato público que
por falta de estrutura no Marajó, grande parte da população tem que se deslocar
para Belém em navios com grande aglomeração para receber seus benefícios
sociais. Tememos que este fato potencialize a transmissão do novo Coronavírus
no Marajó. Por isso, solicitamos a viabilização de estruturas suficientes
para atender a necessidade da população no recebimento dos seus benefícios em
cada município. Além disso, solicitamos que seja reduzido o número de
embarcações para o transporte de passageiros, com uma fiscalização eficiente
para tal.
O Marajó,
historicamente, foi esquecido pelos governos federal e estadual. Prova disso é
que os municípios desta região apresentam os piores IDH´s do Estado do Pará e
do Brasil. Tememos que, mais uma vez, o(a) cidadão(ã) paraense residente no
Marajó fique relegado(a) ao descaso ou desamparado(a). Mas esperamos que não seja
necessário fazer escolhas entre quem vai viver e quem vai morrer, razão pela
qual fazemos este apelo a Vossa Excelência, aguardando uma resposta positiva,
rápida e eficaz, pelo que muito agradecemos.
Sabemos que o
governo federal tem disponibilizado recursos para ajudar a solucionar os
problemas da saúde por causa desta pandemia. Para nós, é urgente que o Estado
solicite recursos para a construção de um hospital de campanha na região
oriental do Marajó. Ao mesmo tempo, ousamos sugerir, respeitosamente, que o
Governo do Estado dialogue com a Sra. Damaris Regina Alves, Ministra de Estado
da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, que lançou o Programa “Abrace o
Marajó”. Este é o momento crucial em que o Marajó mais necessita de um abraço
afetuoso e carinhoso dos poderes estadual e federal para ser defendido e
cuidado. Quem é solidário e propõe que se abrace o Marajó, neste momento não
poderá ficar de braços cruzados, nem indiferente a este apelo clamoroso do povo
marajoara.
Senhor Governador,
conhecemos sua identidade católica e sua fé no Deus da vida que sempre socorre
os fracos e desvalidos. Gostaríamos de contar com o seu compromisso para com a
nossa população marajoara, já tão vulnerável. Acreditamos profundamente que
haja caminhos de esperança e que, juntos, unidos e solidários uns com os
outros, venceremos essa luta pela saúde e pela vida digna do nosso povo.
O Cristo
Ressuscitado, que está no meio de nós, seja a nossa força e a nossa vida!
Atenciosamente,
Dom
Teodoro Mendes Tavares
Bispo Diocesano de Ponta de Pedras
Dom
Evaristo Pascoal Spengler
Bispo da Prelazia do Marajó
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