Dos dias 28 a 30 de agosto, os bispos do Regional Norte 2 juntamente com padres, religiosas e religiosas, leigos e leigas se reuniram para um estudo aprofundado do documento preparatório para o Sínodo da Amazônia. Como resultado dos estudos, o Regional lançou uma carta, a qual terá seu conteúdo integralmente reproduzido a seguir.
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“Cristo
aponta para a Amazônia”
São Paulo VI
São Paulo VI
Reunidos em Belém do Pará, com o objetivo de
estudar o Instrumento de Trabalho do Sínodo da Amazônia, nós, bispos, padres,
religiosas e religiosos, leigas e leigos das Igrejas amazônicas, como também
irmãs e irmãos que compartilham a caminhada ecumênica, queremos manifestar
nossas preocupações com a “Casa Comum” e uma missão evangelizadora encarnada,
samaritana e ecológica.
Desde 1952, os bispos da Amazônia se reúnem
periodicamente para se posicionar sobre a missão da Igreja na realidade
peculiar da Amazônia. “Cristo aponta para a Amazônia” é a expressão profética e
programática do Papa São Paulo VI que em 1972 repercutiu no Encontro de
Santarém. A nossa Igreja assumiu, então, o compromisso de se “encarnar, na
simplicidade”, na realidade dos povos e de empenhar-se para que por meio da
ação evangelizadora se tornasse cada vez mais nítido o rosto de uma Igreja
amazônica, comprometida com a realidade dos povos e da terra. No encontro de
1990, em Belém-Icoaraci, os bispos da Amazônia foram os primeiros a advertir o
mundo para um iminente desastre ecológico com “consequências catastróficas para
todo o ecossistema (que) ultrapassam, sem dúvida, as fronteiras do Brasil e do
Continente” (Documento “Em defesa da Vida na Amazônia”).
Novamente reunidos em Icoaraci/PA em 2016, os
bispos da Amazônia dirigiram uma carta ao Papa Francisco pedindo um Sínodo para
a Amazônia. Acolhendo o desejo da Igreja nos nove países amazônicos, o Papa
convocou em 15 de outubro de 2017 a “Assembleia Especial do Sínodo dos Bispos
para a Pan-Amazônia”, com o tema “Amazônia: novos caminhos para a Igreja e para
uma ecologia integral”.
A Igreja Católica desde o século XVII está
presente na Amazônia preocupando-se com a evangelização e a promoção humana ao
mesmo tempo. Quantas escolas, hospitais, oficinas, obras sociais se construíram
e foram mantidas durante séculos em todos os rincões da Amazônia. Vilas e
cidades se edificaram a partir das “missões” da nossa Igreja. Quanto sangue,
suor e lágrimas foram derramados na defesa dos direitos humanos e da dignidade,
especialmente dos mais pobres e excluídos da sociedade, dos povos originários e
do meio ambiente tão ameaçados. Lamentamos imensamente que hoje, em vez de
serem apoiadas e incentivadas, nossas lideranças são criminalizadas como
inimigos da Pátria.
Junto com o Papa Francisco, defendemos de modo
intransigente a Amazônia e exigimos medidas urgentes dos Governos frente à
agressão violenta e irracional à natureza, à destruição inescrupulosa da
floresta que mata a flora e a fauna milenares com incêndios criminosamente
provocados.
Ficamos angustiados e denunciamos o
envenenamento de rios e lagos, a poluição do ar pela fumaça que causa perigosa
intoxicação, especialmente das crianças, a pesca predatória, a invasão de
terras indígenas por mineradoras, garimpos e madeireiras, o comércio ilegal de
produtos da biodiversidade.
A violência, que ultimamente cresceu de
maneira assustadora, nos causa horrores e exige também o engajamento da nossa
Igreja para que a paz e o respeito, a fraternidade e o amor prevaleçam.
Defendemos vigorosamente a Amazônia, que
abrange quase 60% do nosso Brasil. A soberania brasileira sobre essa parte da Amazônia
é para nós inquestionável. Entendemos, no entanto, e apoiamos a preocupação do
mundo inteiro a respeito deste macro-bioma que desempenha uma importantíssima
função reguladora do clima planetário. Todas as nações são chamadas a colaborar
com os países amazônicos e com as organizações locais que se empenham na
preservação da Amazônia, porque desta macrorregião depende a sobrevivência dos
povos e do ecossistema em outras partes do Brasil e do continente.
O Sínodo, convocado pelo Papa Francisco, chega
num momento crucial de nossa história. Queremos identificar novos caminhos para
a evangelização dos povos que habitam a Amazônia. Ao mesmo tempo, a Igreja se
compromete com a defesa desse chão sagrado que Deus criou em sua generosidade e
que devemos zelar e cultivar para as presentes e futuras gerações.
Cabe um agradecimento especial à Rede Eclesial
Pan-Amazônica/REPAM por todo o esforço dedicado no importante processo de
ESCUTA das comunidades e no envolvimento dos diversos segmentos do Povo de
Deus, especialmente mulheres e com forte participação das juventudes e dos
povos originários.
Pedimos que rezem por nós, irmãs e irmãos,
para que a caminhada sinodal reflita “as alegrias e as esperanças, as tristezas
e as angústias dos homens e das mulheres de hoje, sobretudo dos pobres e de
todos aqueles que sofrem” (GS 1).
Que Maria de Nazaré, expressão da face materna
de Deus no meio de nosso povo, por sua intercessão, acompanhe os passos da
Igreja de seu Filho nas terras e águas amazônicas para que ela seja sinal e
presença do Reino de Deus. Que ajude, com sua missão evangelizadora e
humanizadora, a dignificar cada vez mais a vida em nossa região.
Participantes
do Encontro de Estudo do Instrumento de Trabalho do Sínodo da Amazônia
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