Quaresma: tempo de preparação para a Páscoa


“Onde queres que façamos os preparativos para comermos a Páscoa?” (Mt 26, 17)

Provavelmente, ainda nos nossos dias,  neste tempo da  Quaresma, repetimos esta mesma pergunta que os discípulos fizeram a Jesus. Normalmente, para qualquer festa importante, a gente costuma se preparar bem para que ela seja bonita e até mesmo inesquecível. Pois bem, para nós, cristãos, é de suma importância a preparação da festa litúrgica em que celebramos a Páscoa do Senhor. Jesus também se preparou, foi tentado e testado de muitas maneiras... Passou  quarenta dias no deserto, rezando e fazendo penitência. A exemplo de Cristo, a Igreja se une e se prepara para celebrar, a cada ano, mediante os quarenta dias da Quaresma, a Páscoa. A Quaresma é um tempo de reparação e organização para a festa da Páscoa. O tempo da Quaresma começa na quarta-feira de Cinzas e termina com o início das celebrações do Tríduo Pascal na quinta-feira da Semana Santa. Nesse período, nós, católicos, realizamos a preparação para a Páscoa, que é a festa cristã mais importante. Falando sobre o tempo da Quaresma, a Constituição Conciliar Sacrosanctum Concilium sobre a Sagrada Liturgia diz o seguinte: “Coloquem-se em maior realce, tanto na liturgia como na catequese litúrgica, os dois aspectos característicos do tempo quaresmal, que pretende, sobretudo através da recordação do batismo ou sua preparação e por meio da penitência, preparar os fiéis para a celebração do mistério pascal, ouvindo com mais frequência a palavra de Deus e entregando-se à oração com mais insistência” (SC, n.109).

Este tempo da quaresma é reservado para os exercícios espirituais, a reflexão, oração, conversão e o crescimento espiritual. Fazendo esse longo retiro espiritual nos preparamos melhor para acolher Jesus Cristo Vivo e Ressuscitado, no Domingo de Páscoa. Nos primeiros séculos do cristianismo, os cristãos começaram a preparar a festa da Páscoa com três dias de oração, meditação e jejum. Posteriormente, no séc. IV, a Igreja aumentou o tempo de preparação para quarenta dias. Assim surgiu a Quaresma. A Igreja convida todos os seus filhos e filhas a se preparem espiritualmente para a Páscoa, vivendo uma vida sóbria, escutando a Palavra de Deus, participando da vida sacramental, rezando mais assídua e intensamente, fazendo a penitência e praticando a caridade. Preparamo-nos, desde quarta-feira de Cinzas, durante quarenta dias até chegar a Semana Santa, na conclusão da Quaresma e o início do Tríduo Pascal da Paixão e Ressurreição do Senhor, quando celebramos a missa da Ceia do Senhor (5ª feira santa), sua paixão e morte (6ª feira santa) e ressurreição de Jesus Cristo (Domingo da Páscoa). Este é o ápice, o ponto culminante de todo o Ano Litúrgico e a razão principal de toda a preparação quaresmal. A Quaresma só tem sentido à luz da Páscoa do Senhor, com todo o seu significado e importância para nós e a humanidade inteira.

No prefácio da Quaresma I rezamos: “Vós concedeis aos cristãos esperar com alegria, cada ano, a festa da Páscoa. De coração purificado, entregues à oração e à prática do amor fraterno, preparamo-nos para celebrar os mistérios pascais, que nos deram vida nova e nos tornaram filhas e filhos vossos”.  Os textos litúrgicos que lemos, ouvimos, meditamos e rezamos durante o tempo da Quaresma são belíssimos e nos conduzem ao verdadeiro espírito deste “tempo favorável”, de graça e salvação. A esse propósito e apenas como exemplo, vejamos o texto do Prefácio da Quaresma V, como síntese de toda esta riqueza:
“Na verdade, é justo e necessário, é nosso dever e salvação louvar-vos, Pai santo, rico em misericórdia, e bendizer vosso nome, enquanto caminhamos para a Páscoa, seguindo as pegadas de Jesus Cristo, vosso Filho e Senhor nosso, mestre e modelo da humanidade, reconciliada e pacificada no amor. Vós reabris para a Igreja, durante a  Quaresma, a estrada do Êxodo, para que ela, aos pés da montanha sagrada, humildemente toma consciência de sua vocação de povo da aliança. E, celebrando vossos louvores, escute vossa Palavra e experimente os vossos prodígios. Por isso, olhando com alegria esses sinais de salvação, unidos aos anjos e aos santos, entoamos o vosso louvor, cantando a uma só voz:”

 Podemos encontrar neste Prefácio todos os elementos que caracterizam não só a liturgia deste tempo, mas especialmente a sua teologia, a sua espiritualidade e a sua pastoral.  Assim a Igreja nos convida a voltarmos para Deus, “Pai Santo, rico em misericórdia”; a fazermos também hoje a grande experiência do Êxodo, que o povo de Israel fez, quando foi libertado por Deus, da escravidão no Egito e partiu, atravessando o mar vermelho e o deserto, em direção à Terra Prometida, onde corre leite e mel...

Nós também fazemos parte do povo de Deus. Somos o seu povo amado e escolhido. A Igreja nos convida a viver de acordo com a vocação que recebemos (cf. Ef 4,1) e a assumir nossa condição de povo peregrino, que caminha para a Jerusalém celeste, para o Céu. Caminhemos, pois, na presença do Senhor, mantendo os olhos fixos em Jesus Cristo, “autor e consumador da nossa fé” (Hb 12,2) e nosso modelo por excelência. O Papa Francisco, presidindo a missa de imposição das Cinzas, na quarta-feira (06/03/19), ressaltou que “A Quaresma é  tempo para reencontrar a rota da vida... Com efeito, no caminho da vida, como em todos os caminhos, aquilo que verdadeiramente conta é não perder de vista a meta” e acrescentou: “O Senhor é a meta da nossa viagem no mundo. A rota deve ser ajustada na direção d’Ele”.

Mais do que simples preparação para a Páscoa, a Quaresma é tempo de grande convocação para que todos os fiéis aceitem o convite à conversão, à reconciliação com Deus e à salvação. É tempo favorável de redirecionarmos a nossa vida para Deus, de nos convertermos, ouvindo e acolhendo Palavra de Deus, que é viva e eficaz. A Quaresma é o tempo privilegiado para o(a) discípulo(a) missionário(a) de Jesus ouvir e saborear a Palavra de Deus. Para conhecer Jesus Cristo e celebrar bem a Páscoa, é preciso entrar na escola da Palavra. Esta Palavra é fornecida a todos nós, em abundância, nos domingos e dias feriais. O Senhor Deus nos convida a escutá-lo, através da sua Palavra e dos seus mensageiros, a realizar a sua vontade, praticando a caridade, construindo fraternidade, evitando o mal e fazendo o bem. Gostaria de recordar também que estamos em tempo de Campanha de Fraternidade, através da qual somos convidados a sermos mais fraternos e amigos uns dos outros. Este Ano o tema da Campanha da Fraternidade é: Fraternidade e Políticas Públicas; e o lema: “Serás libertado pelo direito e pela justiça” (Is 1,27), inspirado no texto do profeta Isaías. Em sintonia com toda a Igreja no Brasil, participemos e rezemos pelo bom êxito da desta Campanha da Fraternidade – 19, apoiando as iniciativas e ações em favor de políticas!... 

Termino, desejando a todo(as) uma boa preparação para a Páscoa, e, desde já, uma santa e feliz Páscoa!

D. Teodoro Mendes Tavares, CSSp
Bispo Diocesano de Ponta de Pedras

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