Carta Pastoral sobre o Ano Diocesano do Dízimo


 Você pode baixar a carta em PDF clicando Aqui

Aos Sacerdotes, Diáconos Permanentes,
Seminaristas, Religiosos(as), Consagrados(as),
Membros do Conselho Diocesano de Pastoral,
Coordenadores(as) de Comunidades,
Agentes da Pastoral do Dízimo, Dizimistas
e todo o Povo de Deus da Diocese de Ponta de Pedras,
saudação, paz e bênçãos!

1. Escrevo–lhes esta Carta Pastoral, no início deste Ano Novo, com imensa alegria espiritual e ardentes votos de um ano abençoado e feliz para todos nós! Na nossa miniassembleia diocesana, ocorrida de 14 a 17 de agosto de 2018, no Seminário Maior Nossa Senhora da Assunção - Ananindeua, fizemos uma avaliação bastante positiva da nossa caminhada de Igreja diocesana. Nessa ocasião, refletimos sobre as nossas prioridades pastorais. Achamos que é muito importante que continuemos executando essas prioridades, com destaque para autossutentabilidade e o dízimo, lembrando que neste ano de 2019 celebramos 22 anos da implantação do Dízimo na nossa Diocese (desde janeiro de 1997).

2. Nessa referida miniassembleia diocesana, decidimos proclamar um Ano Diocesano de Dízimo, com abertura oficial no Domingo da Epifania do Senhor, dia 06 de janeiro de 2019, e o encerramento no dia 05 de janeiro de 2020. O tema do Ano Diocesano do Dízimo é: “DÍZIMO: TESTEMUNHO DE FÉ E COMPROMISSO COM A IGREJA” e o lema: Façam a experiência do dízimo... e derramo sobre vocês as minhas bênçãos de fartura ( Cf. Ml 3,10). O objetivo desta presente Carta Pastoral é - juntamente com o nosso Plano Diocesano de Pastoral, qual expressão da nossa comunhão e unidade pastoral em toda a Diocese - exatamente para motivar, inspirar e até mesmo nortear a caminhada das comunidades e paróquias, pastorais, movimentos, grupos eclesiais, Equipes da Pastoral do Dízimo, dizimistas e todo o Povo de Deus desta amada Diocese de Ponta de Pedras, no Ano Diocesano do Dízimo, tendo como fio condutor o tema e o lema que escolhemos.

Apresento esta Carta com o intuito de contribuir para esclarecer e compreender melhor o que é Dízimo, qual é a sua fundamentação bíblica e teológica, sua finalidade e importância para a sustentação da Igreja e suas obras em favor do Reino de Deus, e dar algumas orientações pastorais para o Ano Diocesano do Dízimo e a implementação da Pastoral do Dízimo em toda a Diocese. Há uma necessidade imperiosa de fazermos uma Pastoral do Dízimo com mais sinergia e capilaridade a fim de sermos todos dizimistas (crianças, adolescentes, jovens e adultos) e consagremos o dízimo com fé, gratidão, alegria, generosidade e fidelidade.

3. O que é o dízimo? A contribuição com o dízimo ou consagração do dízimo é sinal de fé em Deus e compromisso com a Comunidade/Igreja e sua missão evangelizadora. A contribuição com o dízimo nasce de um coração convertido e agradecido. Através do dízimo, o(a) dizimista manifesta sua fé em Deus, que ama e reverencia agradecido por
tudo o que recebeu e recebe do Senhor! É preciso que tomemos consciência que somos eternamente devedores de Deus! Devemos amá-lo em primeiro lugar e acima de tudo e demonstrar isso, através de gestos concretos de fé e gratidão, como por exemplo, consagrando o dízimo. Contribuir com/consagrar o dízimo é, antes de mais, um compromisso pessoal, que nasce da decisão de quem tem fé e exprime sua pertença à Igreja, assume seu compromisso de colaborar solidariamente na sua manutenção e missão de evangelizar. A consagração do dízimo supõe um trabalho de conscientização e evangelização prévia do(a) dizimista. Ninguém se torna um(a) dizimista fiel, sem ser evangelizado, sem a conversão do coração e amor à Igreja.

O Ano Diocesano do Dízimo é, para nós, um tempo de graça, de evangelização e conversão. O dízimo é um gesto concreto de quem tem fé e a testemunha com obras, e não fica apenas na mera profissão de fé, com palavras bonitas, mas sem compromisso efetivo. S. Tiago nos adverte: “Meus irmãos, se alguém diz que tem fé, mas não tem obras, que adianta isso? A fé seria capaz de salvá-lo? Como o corpo sem espírito é morto, assim também a fé, sem obras, é morta” (Tg 2,14.26). Professar a fé com a boca implica um testemunho de vida coerente com a aquilo que se acredita. Por isso, somos convidados(as) a professar a fé que recebemos da Igreja de Cristo, com renovada convicção, especialmente na assembleia litúrgica dos fiéis, e, ao mesmo tempo, assumir o compromisso de vivermos a fé cristã, que deve ser manifestada concretamente na prática de boas obras.

Entre os vários compromissos inerentes à nossa fé, no Ano Diocesano do Dízimo, destacamos o dever de consagrarmos o dízimo como testemunho fé e amor pela Igreja, como sinal de partilha, comunhão e participação na sua vida e missão salvífica. Assim sendo, a decisão de ser dizimista não é tanto por causa de uma lei, mas sobretudo de uma decisão pessoal, livre e consciente, de quem tem fé e é agradecido a Deus, origem de todos os bens. Nosso Senhor Jesus Cristo disse: “Vocês receberam de graça, deem também de graça” (Mt 10, 8). Deste modo, o(a) dizimista contribui com o dízimo ou consagra o seu dízimo como expressão de fé, amor, partilha, gratidão e reconhecimento da infinita bondade de Deus para com todos nós. Quem é dizimista não é egoísta, mas solidário e agradecido. Sente-se corresponsável pela sua Comunidade/Igreja a que pertence. Assume seu compromisso cristão e colabora solidariamente com a Igreja na obra da salvação.

4. Fundamentos bíblicos do dízimo: O dízimo é uma prescrição bíblica. No livro de Eclesiástico está escrito: “Não se apresente de mãos vazias diante do Senhor, pois tudo isso é pedido pelos mandamentos. A oferta do justo alegra o altar, e o perfume dela sobe até o Altíssimo... Glorifique o Senhor com generosidade, e não seja mesquinho nos primeiros frutos que você oferece. Quando oferecer alguma coisa, esteja de rosto alegre, e consagre o dízimo com boa vontade. Ofereça ao Altíssimo conforme o dom que ele fez a você; dê com generosidade, segundo suas possibilidades. Porque o Senhor retribui a oferta e ele, em troca, lhe dará sete vezes mais (Eclo 35, 4.7-10).

Na Sagrada Escritura encontramos muitas passagens referentes ao dízimo e à sua norma. Segundo o livro de Levítico o dízimo deve ser consagrado, porque pertence ao Senhor Deus (cf. Lv 27,30-33), assim como a vida de cada um de nós está nas mãos de Deus, que é dono de tudo. O dízimo significa esse reconhecimento, além de ser também um gesto de gratidão. O patriarca Abraão entregou o dízimo de tudo a Melquisedeque (cf. Gn 14,20), como reconhecimento de que tudo pertence a Deus. Jacó fez um voto de dar a Deus o dízimo de tudo o que viesse a possuir em sua jornada (Gn 28,22). Com Moisés, o dízimo é visto como preceito (cf. Lv 27,30). Neemias censura o desleixo pela casa de Deus por falta de dízimo (cf. Ne 13,10-11). Amós condena o culto sem conversão, sem sacrifícios e sem o dízimo (cf. Am 4,4-5). No Livro de Malaquias, Deus se queixa de quem o “enganava”, por não consagrar o dízimo completo(cf. Ml 3,6-10). O Senhor Deus põe na boca do profeta Malaquias a promessa infalível das suas copiosas bênçãos para os que consagrarem o dízimo:

“Tragam o dízimo completo para o cofre do Templo, para que haja alimento em meu Templo. Façam essa experiência comigo – diz o Senhor dos exércitos. Vocês hão de ver, então, se não abro as comportas do céu, se não derramo sobre vocês as minhas bênçãos com fartura” (Ml 3,10). Realmente inúmeros dizimistas dão testemunho de muitas bênçãos e graças de Deus que receberam, a partir do momento em que fizeram a experiência de consagrar o dízimo, como nos recomenda o Senhor! Quem é dizimista tem fé em Deus e confia nas suas promessas, como fez Abraão, nosso pai na fé (cf. Rm 4,16-25).

Lendo a Sagrada Escritura, percebemos que a consciência e a prática de contribuir com o dízimo brotam da fé, do reconhecimento de quem é Deus e da gratidão que temos a Ele. A visão bíblica do dízimo é diferente da “teologia da prosperidade”. Dízimo não é negociata com Deus. Isso seria uma compreensão equivocada de Deus e do dízimo. Deus não se deixa manipular nem subornar por ninguém! No livro de Eclesiástico, o autor sagrado nos exorta: “Não tente subornar a Deus, porque ele não aceita suborno” (Eclo 35,11).

O ensinamento teológico sobre o dízimo está presente no Novo Testamento e vem da prática judaica, desde o tempo dos patriarcas. O dízimo aparece mencionado nas palavras de Jesus. Ele ordenou a prática do dízimo. Todavia, censurou os fariseus por darem o dízimo, mas ao mesmo tempo deixavam os ensinamentos mais importantes da Lei: a justiça, a misericórdia e a fé (cf. Mt 23,23; Lc 11,42). Nesta passagem, longe de anular o dízimo, Jesus o reafirma ao declarar: “Vocês deveriam praticar isso, sem deixar aquilo” (Mt 23,23). Nosso Senhor elogiou o exemplo da viúva pobre que depositou duas pequenas moedas, dando da sua pobreza tudo o que tinha, tudo o que possuía para viver (cf. 12,41-44). Ninguém se apresente diante de Deus de mãos vazias (cf. Dt 16,16).

Há outros trechos bíblicos relativos ao dízimo, que podem servir para nossa meditação e ação pastoral: (cf. Nm 18,21-24; Dt 18,1-8); Eclo 35,11-13; Dt 14,28-29; Ml 3,8-10; 2Cor 9,6-7). A bíblia recomenda inclusive o dízimo especial para auxiliar e promover os mais pobres e necessitados, especialmente o estrangeiro, o órfão e a viúva (cf. Dt 14,28-29; 26,12-15; 12,14-17; 14,22-28).

A partilha e a comunhão fraterna faziam parte da vida das primeiras comunidades cristãs: “A multidão dos fiéis era um só coração e uma só alma. Ninguém considerava propriedade particular as coisas que possuía, mas tudo era posto em comum entre eles... Ninguém passava necessidade” (At 4,32.43; cf. 2,42-47). Este é, sem dúvida um belo testemunho da vida cristã, que todos nós devemos seguir!... Negar a partilha demonstra egoísmo e mesquinhez de espírito (cf. At 5,1-11; Mt 6,19-23); há mais alegria em dar, do que receber (cf. At 20,32-35); Deus é fiel, supre as nossas necessidades e nos recompensa muito mais (cf. Fl 4,19; Ml 3,8-11; Eclo 35,1-20). Por aquilo que já foi exposto, fica claro que o dízimo tem sua fundamentação na própria Sagrada Escritura. O dízimo é uma prática bíblica para o povo de Deus, de que fazemos parte. Portanto, não se trata de uma invenção da Igreja, nem de uma taxa mensal/imposto da mesma, e nem tão pouco de uma campanha financeira para o enriquecimento da Igreja ou para o benefício pessoal de quem quer que seja!... A correta compreensão do dízimo evita que se corra o grave risco de entendê-lo de forma errada e ajuda a superar eventuais equívocos...

5. As dimensões/finalidade do dízimo: O dízimo deve ser explicado e assumido na perspectiva pastoral e de evangelização, com seus elementos bíblicos e teológicos fundamentais. É preciso lembrar também as várias dimensões do dízimo e sua finalidade; enfim, urge apresentar o dízimo na perspectiva de fé e gratidão a Deus, de pertença à Igreja e compromisso com ela e sua missão evangelizadora. 

“As finalidades do dízimo decorrem de sua natureza e de suas dimensões” (Documento da CNBB 106, n. 34). O dízimo é destinado para a manutenção da Igreja de Cristo e de suas obras, sua ação evangelizadora, assistência aos pobres e necessitados, através das pastorais sociais, entre outras dimensões da ação evangelizadora: religiosa, eclesial, missionária e sócio-caritativa. Explicitando melhor: o dízimo é direcionado para a ação evangelizadora da Igreja: a dimensão religiosa, eclesial refere-se à celebração do culto divino, realização de atividades eclesiais, construção da igrejas/centros comunitários e/ou sua manutenção, pagamento de água, energia elétrica...; quanto à dimensão missionária, é importante salientar que o dízimo é usado no âmbito da nossa ação evangelizadora, para a formação das próprias lideranças paroquiais, para custear despesas com combustível e meios de transporte para viagens/visitas pastorais e assistência religiosa às comunidades da cidade e do interior; em geral, há despesas com as obras de apostolado, pastorais, movimentos, grupos eclesiais; o dízimo contribui também financeiramente para outras obras e compromissos importantes da Paróquia e da Diocese, nomeadamente os serviços da secretaria paroquial e da cúria diocesana, pagamento de salários, encargos sociais, formação dos seminaristas e leigos(as), quando ocorre a nível diocesano; e a dimensão sócio-caritativa do dízimo é a parte que diz respeito aos gastos com os trabalhos de assistência social, que a paróquia ou a Diocese realizam, através das pastorais sociais (Pastoral do Menor, Pastoral da Criança, Pastoral da Pessoa Idosa, Caritas, Justiça e Paz ...).

Existe, portanto, uma ligação inseparável entre o dízimo que consagramos e a evangelização. O Código de Direito Canônico prescreve que “os fiéis têm obrigação de socorrer as necessidades da Igreja, a fim de que ela possa dispor do que é necessário para o culto divino, para as obras de apostolado e de caridade e para o honesto sustento dos ministros” (c. 222 § 1). Convém lembrar também o que está escrito no nosso Plano Diocesano de Pastoral: “Nossa Diocese tem buscado nos últimos anos avançar na consciência da autossustentabilidade das paróquias. Nesse aspecto, o dízimo é uma das formas mais coerentes de captação de recursos para a sustentação da Igreja, sendo o meio bíblico que viabiliza a manutenção dos templos, da evangelização, do seminário e da atividade missionária da Diocese.” (Plano de Pastoral, n. 06). Deste modo, é ponto pacífico que a motivação mais profunda para participarmos da Pastoral do Dízimo e sermos dizimistas não é financeira, mas bíblica, teológica, pastoral e missionária.

6. Espiritualidade do dízimo: O dízimo requer de todos nós uma espiritualidade de gratuidade! A contribuição com o dízimo ou consagração do dízimo como ato de fé revela nossa compreensão bíblica de Deus, que é o Senhor e criador de todas as coisas. Devemos reconhecer que o que temos e somos vem de Deus. Nesse sentido, ao reconhecermos a soberania divina, não “pagamos” o dízimo, mas devolvemos ao Senhor Deus uma pequena parte de tudo aquilo que recebemos do seu inefável amor por nós. O dízimo está relacionado com o amor de Deus por nós, revelado em Jesus Cristo. S. João diz que Deus nos amou tanto, que enviou o seu Filho ao mundo, para nos salvar e toda a humanidade (cf. Jo 3,16). Jesus veio ao nosso encontro. Ele nos amou e se entregou por nós (cf. Gl 2,20). No altar da cruz ofereceu Sua vida como sacrifício perfeito e agradável a Deus Pai para nos salvar.

S. Paulo fala da graça imensurável que recebemos de Deus e O bendiz, porque Ele nos abençoou com todas as bênçãos espirituais em Cristo (cf. Ef 1,3-14). O mesmo Apóstolo exalta a grande generosidade de nosso Senhor Jesus Cristo que, embora fosse rico, por causa de nós, Se fez pobre para nos enriquecer (cf. 2Cor 8,9). A pessoa que tem fé em Deus e que lhe é agradecida pela vida e pelos bens que d´Ele recebe, contribui com o dízimo ou o consagra com o coração agradecido e generoso, sem constrangimento. Eis o que recomenda S. Paulo: “Cada um dê conforme tiver decidido em seu coração, sem pesar nem constrangimento, pois Deus ama quem dá com alegria” (2 Cor 9,7).

Vivemos numa época da “cultura do bem-estar” e de “crise de fé que atingiu muitas pessoas” (Bento XVI, Carta Apóstolica Porta Fidei, n. 2). Segundo o Papa Francisco, essa cultura do bem-estar anestesia-nos! Juntamente com a cultura do bem-estar, desenvolveu-se também uma globalização da indiferença (cf. Exortação Apostólica Evangelii Gaudium, n. 54). Na homilia da missa da noite de Natal (Missa do Galo), celebrada no dia 24/12/2018, ele criticou a “ganância insaciável”, a voracidade consumista e a ostentação de bens materiais, que não saciam o coração do ser humano: “O homem tornou-se ávido e voraz. Para muitos, o sentido da vida parece ser possuir, estar cheio de coisas. Uma ganância insaciável atravessa a história humana, chegando ao paradoxo de hoje em que alguns se banqueteiam lautamente enquanto muitos não têm pão para viver.”

Para o Santo Padre, é preciso superar o egoísmo e evitar cair “na mundanidade e no consumismo”. Ele nos convida a contemplarmos o presépio (onde Deus Se faz pequeno em Belém!), para compreendermos que não é a avidez e a ganância que alimentam a vida, mas o amor, a caridade e a simplicidade: “Diante da manjedoura, compreendemos que não são os bens que alimentam a vida, mas o amor; não a voracidade, mas a caridade; não a abundância ostentada, mas a simplicidade que devemos preservar”. O Pontífice Romano nos exorta a “não devorar nem acumular, mas partilhar e dar”.
É fundamental que cada um(a) de nós lute contra o egoísmo e a ganância, contra a tentação de querer servir a dois senhores ou, pior ainda, a idolatria de servir o dinheiro (ou os bens materiais), como se fosse o seu senhor. O Papa Francisco nos lembra que “não levamos o dinheiro conosco para o além. O dinheiro não nos dá a verdadeira felicidade” (Bula Misericordiae Vultus n. 19).

Nosso Senhor Jesus Cristo ensinou-nos que a felicidade não se encontra na abundância de bens materiais, mas em Deus e na vivência das bem aventuranças. No sermão da montanha, Ele nos mostra o caminho da verdadeira felicidade, que devemos trilhar. Entre as oito bem-aventuranças, Jesus proclamou a pobreza evangélica como a primeira: “Felizes os pobres em espírito, porque deles é o Reino dos Céus” (Mt 5,3). Não nos esqueçamos que Deus é o único Senhor da nossa vida, a quem devemos amar em primeiro lugar e acima de tudo, como manda a bíblia (cf. Mc 12,30-31). Deus é a nossa maior riqueza, o sumo bem. Ele é a fonte da vida, da graça e de todos os bens! O Senhor Deus é o nosso maior tesouro. E onde está o nosso tesouro aí estará também o nosso coração (cf. Mt 6,21). Tudo vem de Deus e tudo lhe pertence. Dele viemos e para ele voltaremos. Por isso Jesus, nos recomenda a buscar em primeiro lugar o Reino de Deus e a sua justiça e todas essas coisas nos serão dadas em acréscimo (cf. Mt 6,33).

O termômetro para medir a nossa fé e amor à Igreja está no dízimo! Quem tem fé em Deus, consagra o dízimo; mas quem é ambíguo, torna-se um católico indefinido, sente o coração dividido entre Deus e o dinheiro; tenta servir a dois senhores, o que é impossível, conforme disse Jesus (cf. Mt 6,24;)!... Dízimo é fruto de uma sincera conversão do coração e da mente, passando pelo “bolso”!... O Senhor nos dê a graça de lhe retribuir, através do dízimo, aquilo que d´Ele recebemos gratuitamente, com fé, gratidão e alegria do coração!

7. Algumas pistas de ação e orientações pastorais: Além daquilo que consta no Plano Diocesano de Pastoral sobre as ações concretas para a implementação do Dízimo nas Comunidades e Paróquias da Diocese (cf. Plano de Pastoral n. 06), várias outras propostas foram elaboradas e aprovadas na miniassembleia de agosto para a dinamização da Pastoral do Dízimo e do Ano Diocesano do Dízimo, tais como: divulgação da pastoral do dízimo (é preciso investir mais na comunicação da Pastoral do Dízimo!); elaboração de calendários e folders; confecção de camisetas e chaveiros alusivos ao dízimo; conscientização dos fiéis para que assumam seu compromisso com a vida e missão da Igreja, sendo dizimistas; Oração do Dizimista e Oração Diocesana para o Ano do Dízimo; Novena do Dízimo nas famílias e comunidades; celebrações com os dizimistas; divulgação do dízimo nas festividades dos Santos Padroeiros e na ocasião da peregrinação diocesana; realização da Semana Missionária do Dízimo a nível paroquial e diocesano; programas radiofônicos sobre o dízimo (inclusive pequenas chamadas sobre o dízimo); entrevistas com os dizimistas; metas a serem alcançadas pelas comunidades e paróquias; evangelização contínua e profunda para que todas as pessoas sejam dizimistas, (crianças (“dízimo mirim”/dízimo infantil), adolescentes, jovens e adultos), começando pelas lideranças, ministros ordinários e ministros(as) extraordinários(as), futuros ministros ordenados, agentes de pastoral, catequistas, catequizandos(as), pessoas engajadas nas pastorais, nos movimentos e serviços da Igreja, enfim todos os fiéis; criação de Equipes da Pastoral do Dízimo (onde não existe), formação (a formação é fundamental nos seus diversos aspectos), qualificação e fortalecimento das Equipes da Pastoral do Dízimo (nas comunidades e paróquias); prestação de contas do dízimo mensalmente e com transparência; realização de encontros para troca de experiências entre as comunidades e paróquias; sintonia com as orientações do Plano Diocesano de Pastoral sobre autossustentabilidade e o dízimo, entre outras iniciativas ...

Há muitos livros e subsídios do Magistério da Igreja e da CNBB (p.ex. o Documento 106 sobre o dízimo) que nos ajudam a aprofundar ainda mais o sentido, a finalidade e a importância do dízimo... Vale a pena ler e aproveitar o que for útil e exequível para a nossa realidade. Sejamos também criativos!...

Acrescento mais algumas orientações pastorais para melhorar Pastoral do Dízimo: a experiência nos ensina que a boa organização do dízimo exige uma Equipe de Pastoral do Dízimo em cada comunidade e uma Equipe Paroquial do Dízimo. A Pastoral do Dízimo deve estar bem organizada a nível de comunidade e paróquia, com metas estabelecidas (de modo que, através da Pastoral do Dízimo, se consiga evangelizar e obter recursos financeiros para as necessidades/despesas ordinárias da comunidade e da paróquia). Recordo que a Pastoral do Dízimo não coloca o foco na arrecadação/campanha financeira, mas na evangelização, pois o dízimo deve ser apresentado na perspectiva da evangelização. Com o trabalho de evangelização vão surgir dizimistas, fruto dessa evangelização e conversão, com a ajuda da graça de Deus. A comunidade e paróquia que não se organizam nem estabelecem metas na Pastoral do Dízimo dificilmente vão progredir de forma sólida na implantação do dízimo, no seu fortalecimento e bom funcionamento. O sucesso depende disso, da organização e de uma boa equipe!

Embora cada uma dessas Equipes da Pastoral do Dízimo (da comunidade e da paróquia) tenha sua função específica, elas devem estar em sintonia, evangelizando, organizando o serviço de atendimento aos dizimistas e falando a mesma linguagem; ambas as Equipes devem dar o testemunho missionário, que somos uma “Igreja em saída”, indo ao encontro das pessoas, dos dizimistas que deixaram de consagrar o dízimo ou se afastaram da Comunidade/Igreja, evangelizando e fazendo uma motivação e conscientização permanente sobre o dízimo, suas dimensões e finalidades; o cadastro dos dizimistas da comunidade ou paróquia é muito importante para a comunicação com eles; convém ter sempre o contato com os dizimistas. Mais do que isso, o ideal é ter uma relação personalizada com os dizimistas, que os ajude a ter o sentido de pertença à comunidade ou à paróquia e a compreender o quanto são importantes para a vida da comunidade/paróquia. Mantenha-se o registro atualizado das suas contribuições e faça-se a prestação de contas do dízimo com total transparência. Escolha-se um dia fixo a cada mês para a consagração do dízimo. Nesse “dia do dízimo”, nas celebrações, faça-se a “Oração do Dizimista”, como já é costume na Diocese. Deve-se rezar pelos dizimistas e manifestar gratidão pela sua preciosa colaboração. Nessa ocasião, é também oportuno divulgar os resultados financeiros do mês anterior e incluir, periodicamente, a motivação sobre o sentido do dízimo e sua finalidade...

Nunca é demais ressaltar que é muito importante atender bem os dizimistas - quer seja em dias de celebração (nos plantões da comunidade/paróquia), quer seja na secretaria, durante a semana, quer seja em outros lugares - de forma educada, atenciosa, paciente, esclarecedora e permanente.

A comunidade/paróquia deve manifestar-se presente na vida do(a) dizimista, sobretudo em ocasiões especiais da sua vida (p.ex., lembrar o seu aniversário natalício, de casamento, de ordenação, cantar os parabéns...). Quando um(a) dizimista está passando por dificuldades, doente, sofrendo, recomenda-se que a Igreja, através de nós, manifeste seu rosto materno e samaritano, fazendo uma visita e/ou enviando uma mensagem de solidariedade, conforto e esperança....

Convém esclarecer que dízimo ofertas são diferentes quanto ao seu sentido e regularidade. O dízimo nas celebrações não pode ser confundido com as ofertas. O Dízimo dever ser consagrado regularmente. A contribuição com o dízimo deve ser assumida de modo permanente. As ofertas feitas nas coletas são de caráter esporádico. As coletas e campanhas especiais se distinguem do dízimo pela finalidade específica. Não devem prejudicar a Pastoral do Dízimo.

Quanto ao valor da oferta do dízimo (“dízimo” significa décima parte, ou 10%), é uma decisão de consciência pessoal. A nossa Igreja não estabelece nenhuma quantia fixa, predeterminada, mas deixa que cada um(a) decida conforme sua consciência, iluminada pela Palavra de Deus, tendo em conta as necessidades da comunidade/Igreja e as reais possibilidades de cada um(a)! Isto requer maturidade na fé e compromisso moral sério com a Igreja! O dízimo deve ser consagrado com alegria (cf. 2Cor 9,6-12). Quem consagra o dízimo não deve nunca fazê-lo constrangido, como se fosse “obrigado”, mas de livre vontade, com fé, amor, gratidão e alegria!

Em relação ao direito à privacidade, referente à quantia com que cada dizimista contribui, e ao anonimato, quando a pessoa solicitar expressamente, devem ser respeitados no registro do dízimo.

A Pastoral do Dízimo deve inserir-se na pastoral orgânica (Pastoral do Conjunto) e envolver todas as pastorais da paróquia, os movimentos e os serviços eclesiais. O bom resultado depende desse amplo processo participativo e da colaboração de todos e todas, particularmente nos encontros comunitários, nas reuniões e assembleias paroquiais.

8. Evangelizar para consolidar a Pastoral do Dízimo em todas as Comunidades e Paróquias: Nem todos os católicos conhecem bem a Pastoral do Dízimo. Muitos não contribuem com o dízimo por causa disso e também por não estarem ainda evangelizados e convertidos. Temos que evangelizar mais e cuidar bem do modo de apresentar o dízimo, evitando confusões... Reconhecemos que, no que concerne à Pastoral do Dízimo, muitos passos já foram dados e vários êxitos alcançados, nas comunidades e paróquias da nossa Diocese, ao longo de mais de duas décadas de implantação de dízimo, mas apesar disso, ainda encontramos vários desafios... É indispensável que continuemos investindo na Pastoral do Dízimo, o que exige ação contínua, quer seja para motivar os dizimistas, quer seja para atingir os que não são dizimistas. Temos que fazer um trabalho constante de evangelização, motivação permanente e educação para a partilha e o compromisso com a Igreja.


É bom também partilhar e valorizar as experiências positivas entre nós; urge capacitar, qualificar e aumentar os agentes de Pastoral do Dízimo, conscientizar, formar e evangelizar os nossos fiéis, fomentar a partilha fraterna e a espiritualidade de comunhão, a corresponsabilidade de todos nós com a vida e a missão da Igreja, com tudo aquilo que se refere à obra da evangelização que o Senhor nos confiou.

Graças ao sacramento do batismo, fomos inseridos no Corpo de Cristo, que é a Igreja. Pertencemos ao povo de Deus. Não podemos perder esse sentido de pertença à Igreja. O saudoso Papa S. Paulo VI dizia que é uma dicotomia absurda amar Cristo sem amar a Igreja; escutar Deus, mas não a Igreja; estar com Cristo à margem da Igreja. Nesse sentido, quem não ama a Igreja não ama Jesus Cristo. Não se compreende um(a) cristão/cristã sem Igreja.

Nós pertencemos à Igreja de Jesus Cristo. Somos uma família formada por vários membros. Todos os membros são necessários. É fundamental a participação de cada um(a) para que a Igreja cresça no seu conjunto, de forma unida e orgânica, como um corpo, em comunhão e participação de todos(as) e com todos(as), e realize a sua missão evangelizadora!
O Quinto Mandamento da Igreja manda ajudar a Igreja em suas necessidades, ou seja, contribuir com o dízimo. Ora se amamos a nossa Igreja de verdade, procuremos obedecê-la através dos seus legítimos pastores e viver em comunhão com ela. Deste modo, fiéis à nossa vocação de batizados(as), participamos ativa e responsavelmente da sua vida e em sua missão.

O dízimo é um gesto concreto e testemunho claro da nossa pertença à Igreja e corresponsabilidade por ela. Todos nós, indistintamente, membros desta Igreja diocesana de Ponta de Pedras, devemos contribuir com o dízimo ou consagrar o dízimo, preferencialmente na Igreja, no contexto da celebração. Não é recomendável recolher o dízimo nas casas (a não ser em casos especiais, pois existe o perigo de assalto). Além de contrariar o sentido bíblico (cf. Dt 12,13-14), isso impede ao fiel de consagrar o dízimo na Igreja. O dízimo tem caráter pessoal. Também na catequese deverá haver uma explicação sobre o dízimo para os(as) catequizandos(as), tendo em vista a educação para a partilha fraterna e a prática do dízimo infantil, sem esquecer os adolescentes e jovens.

Os agentes da Pastoral do Dízimo sejam dizimistas. O testemunho de vida é a forma mais eloquente de evangelizar! O mesmo se pode dizer em relação aos ministros ordenados (Bispo, Padres e Diáconos), pois “os ministros ordenados, além de serem dizimistas, são também agentes da Pastoral do Dízimo, uma vez que têm responsabilidade de grande importância na conscientização e na motivação das comunidades e no funcionamento da Pastoral do Dízimo” (Documento da CNBB 106, n. 62). Recomenda-se, por isso, que “na formação dos futuros ministros ordenados, sejam reforçados o conhecimento e a prática do dízimo, tendo em vista sua futura atuação como diáconos, padres e bispos nessa pastoral” (idem, n. 72); Também os(as) coordenadores(as) de comunidades, pastorais e movimentos eclesiais, enfim, todos os fiéis devem ser dizimistas. Seria uma grande incongruência alguém falar apenas do dízimo para os outros ou fazer parte da Pastoral do Dízimo, “cuidar do dinheiro dos outros” e não ser dizimista!... Não são apenas algumas pessoas da comunidade/paróquia que devem ser dizimistas, mas todos nós, sem exceção, Pastores e fiéis, pois somos corresponsáveis pela Igreja e pela missão que ela recebeu do Senhor Jesus.

Os casos esporádicos de má administração financeira ou de abusos de certas pessoas por práticas desonestas não devem ser vistos como desculpa ou pretexto para alguém não ser dizimista. Haja sempre honestidade e transparência na prestação de contas, pois temos o direito de saber o destino das contribuições recebidas na Igreja!

9. Por fim, mas não menos importante, gostaria de expressar a minha sincera gratidão e o meu reconhecimento por todos aqueles(as) que nos precederam neste trabalho de evangelização e na implantação do dízimo na Diocese, em 1997. Cabe- nos, agora neste tempo especial de graça e evangelização, que o Ano Diocesano do Dízimo nos proporciona, dar um novo impulso à Pastoral do Dízimo e implementá-la com mais capilaridade ainda, a fim de que todas as comunidades desta Diocese façam a opção pelo dízimo e sejamos todos dizimistas. Muito obrigado às Equipes da Pastoral do Dízimo, que atuam nas paróquias, sob a responsabilidade dos Párocos e Vigários paroquiais, pela sua importante ação evangelizadora nas famílias, pastorais, movimentos eclesiais, grupos, comunidades e paróquias da nossa Diocese de Ponta de Pedras. Um agradecimento especial a cada dizimista pelo seu luminoso testemunho de fé; Grato pelo seu compromisso eclesial e amor à Igreja de Cristo, de que fazemos parte. De fato, DÍZIMO é TESTEMUNHO DE FÉ E COMPROMISSO COM A IGREJA! Quem é dizimista dá um grande testemunho de fé, esperança e caridade. Mostra que tem um coração magnânimo, manifesta sua solicitude com o próximo, ama a Deus e o adora em espírito e verdade. O dizimista manifesta seu sentido de pertença à sua comunidade/Igreja e seu amor por ela; assume seu compromisso pessoal e intransferível de participar solidariamente na vida da Igreja e em sua missão. Quando consagramos fielmente o dízimo e a Igreja dá testemunho de comunhão fraterna entre seus membros, realiza sua missão evangelizadora e o Reino de Deus é anunciado, o Senhor Deus se alegra conosco e cumpre sua promessa, derramando sobre nós Suas bênçãos de fartura (Cf. Ml 3,10). Sejamos todos(a) dizimistas!

Junto envio-lhes também a Oração do Dizimista e a Oração Ano Diocesano do Dízimo. Recomendo que essas orações sejam feitas regularmente, em toda a Diocese, especialmente nas celebrações, nos encontros, nas reuniões, assembleias pastorais, entre outros momentos oportunos para rezar. Que o Espírito Santo, protagonista da missão, nos anime, guie e assista sempre na nossa missão para que o Ano Diocesano do Dízimo produza muitos frutos!

Aproveito ainda esta oportunidade para desejar-lhes novamente um feliz Ano Novo. Asseguro a todos (as) minhas orações. Peço e agradeço que rezem por mim também e pela nossa Diocese. Imploro a bênção de Deus, pela intercessão de Nossa Senhora da Imaculada Conceição, nossa excelsa Padroeira, sobre todos(as) vocês.

Ponta de Pedras, 01 de janeiro de 2019, solenidade da Santa Maria, Mãe de Deus e Dia Mundial da Paz.


+ Teodoro Mendes Tavares, CSSp
Bispo da Diocese de Ponta de Pedras

Comentários